segunda-feira, 20 de junho de 2011

Fatalismo e liberdade


Algumas pessoas sustentam que as questões humanas são completamente predeterminadas, uma maneira de pensar considerada como fatalista. Por razões semelhantes, o conceito budista de causalidade é algumas vezes criticado como fatalista. Se a vida de uma pessoa neste mundo é predestinada em conseqüência das causas passadas, e se seu futuro é determinado pelo carma limitado da vida presente, onde ela poderá encontrar a liberdade e que significado pode buscar na vida?

Um exemplo típico de fatalismo pode ser encontrado em alguns ensinos pré-Sutra de Lótus. Esses ensinos afirmam que a única salvação encontra-se na vida após a morte. Por exemplo, diziam que se uma pessoa acreditasse e confiasse na graça de um Buda tal como Amida, conseguiria se libertar dos grilhões deste mundo e renasceria na Terra Pura da Perfeita Alegria. Mas não existe sustentação racional para tal crença. A liberdade não se encontra com a fuga da causalidade, mas sim transformando-a para nossa própria vantagem.

Ninguém pode escapar da lei da causalidade, mas os seres humanos podem aprender como ela funciona e utilizarem-na. Em toda a história, os indivíduos descobriram e colocaram em prática várias leis da natureza, tais como a lei da gravidade e a teoria da relatividade. A gravidade pode ser considerada como uma força que mantém as pessoas presas à terra, mas pode ser também vista como uma força que torna possível a liberdade de se locomover sobre a terra, no mar e no ar.

Sakyamuni declara: “Se deseja compreender as causas que existiram no passado, observe os resultados que elas manifestam no presente. E se quiser saber que resultados serão manifestados no futuro, observe as causas presentes.” Existe, então, a absoluta possibilidade de transformar o futuro com os esforços presentes. Mas o que pode ser feito a respeito das causas já formadas no passado? A personalidade, o caráter e o destino são todos conseqüências do que a pessoa era e do que fez no passado. No Sutra de Lótus, Sakyamuni direcionou as pessoas para uma fonte de força que podia romper as correntes das forças cármicas, mas ele não a identificou especificamente. Foi Nitiren Daishonin que explicou a entidade da vida, em oposição ao fenômeno da vida, e como ela permanece livre das influências cármicas por toda a eternidade. Essa entidade ou Lei da vida, que ele chamou Nam-myoho-rengue-kyo, é a causa que capacita a superar toda a inércia cármica e permite que novos efeitos surjam da vida de cada ser humano. A luta para vencer a inércia cármica das más causas criadas desde épocas passadas é naturalmente muito difícil e requer um esforço vitalício. Porém, o fato de essa luta certamente resultar em vitória dissipa os sentimentos de fatalismo e faz surgir a esperança em um futuro brilhante.

A palavra rengue (literalmente, flor de lótus), de Nam-myoho-rengue-kyo, simboliza o princípio de que a causa e o efeito existem simultaneamente em um único momento da vida. Conseqüentemente, isso significa que a determinação de uma pessoa no presente determinará o futuro, ou o efeito pelo qual ela está se empenhando. A determinação de uma pessoa é forte o bastante para mudar seu destino? O poder da determinação opera nos níveis conscientes da psique humana ao passo que o carma existe nos níveis inconscientes, ou ainda mais profundamente. Evidentemente, a humanidade necessita de alguma força que possa alterar o ritmo da própria vida, e essa força é e sempre foi o Nam-myoho-rengue-kyo. Cientes dessa poderosa chave para essa inesgotável e inerente força vital dos seres humanos, as pessoas ficam confiantes de que podem fazer causas para libertarem-se completamente de seu carma negativo. Com essa chave, tudo o que resta é extrair a energia vital do Nam-myoho-rengue-kyo das profundezas de sua própria vida. Isso é possível com uma firme e sincera recitação de Daimoku ao Gohonzon, a incorporação do Nam-myoho-rengue-kyo.

Texto extraído do livro "Fundamentos do Budismo", Editora Brasil Seikyo, © 2004. Direitos reservados. É proibida a reprodução de texto e imagens contidos nesta publicação

Fonte: www.bsgi.org.br/filosofia_fatalismo.htm