terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Budismo e homossexualidade



Editora Brasil Seikyo Brasil Seikyo - Edição 1923 - 12/01/2008 - Pág.B6 - Vida em Família


Brasil Seikyo: como o Budismo Nitiren e a SGI encaram esse tema?


Nakamura: O Budismo não considera a homossexualidade nem como um mal nem como um bem. O budismo é a filosofia da vida e, mais precisamente, a filosofia da vida humana. No Budismo Nitiren não há julgamentos sobre a sexualidade ser boa ou má, nem imposições para que seus praticantes manifestem um comportamento sexual em particular, deixando a decisão para o próprio indivíduo. Por isso, o budismo não opina moralmente sobre a homossexualidade, assim como não discrimina qualquer outro tipo de preferências ou menospreza qualquer tipo de seres vivos. Como budistas conscientes e membros da SGI, devemos antes de tudo considerar que são os preconceitos e as discriminações que provocam os conflitos entre os seres humanos.


A análise sobre a homossexualidade é uma questão que deve ser colocada em outra categoria e o budismo não considera como um distúrbio ou vício. Como todos os seres humanos são considerados iguais, quaisquer que sejam a sua condição de vida, todos apresentam a natureza de Buda e podem
evidenciá-la pela recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.


Brasil Seikyo: Alguns tratam a homossexualidade como um desvio ou até doença. E o budismo?


Nakamura: É de suma importância tomar o devido cuidado para não considerar a homossexualidade como um desequilíbrio e absolutamente não pensar que seja um sinal de uma prática budista incorreta ou fraca. Como o Budismo Nitiren não proclama um comportamento moralista, mas uma filosofia que defende o respeito máximo pela vida, é importante que nos comportemos de modo digno conosco e com os que
estão ao nosso redor.


Outro ponto a ser destacado é a própria homossexualidade quando é vista como um sofrimento. Neste caso, o Budismo ensina a forma para ultrapassar esta manifestação cármica, como qualquer outro desafio a ser enfrentado. Caso o indivíduo se sinta satisfeito com a sua opção sexual, não existem motivos para que modifique o seu comportamento.


Brasil Seikyo: Como lidar com esse tema na BSGI?


Nakamura: Os líderes em geral – e aqui podemos generalizar para “todos os praticantes do Budismo Nitiren” – devem ser complacentes, ter discernimento e, principalmente, ser tolerantes. Todos precisam antes compreender que vivemos numa organização de “pessoas diferentes com a mesma mente” (itaidoshin). A essência do budismo é não julgar com base em idéias e pontos de vistas pessoais dos dirigentes.


Não há superior e inferior entre os seguidores do Budismo Nitiren. Se um líder usa de sua posição de responsabilidade para somente tecer julgamentos e não oferecer incentivos e orientações com base em ensinamentos sobre a prática budista, estará indo contra o princípio fundamental do próprio ensino. O presidente da SGI afirma: “...o budismo ensina o princípio da ‘cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro’ — segundo o qual todas as coisas têm sua própria beleza e missão. A cerejeira tem uma beleza distinta. A ameixeira tem uma delicada fragrância. As flores do pessegueiro têm um belo colorido. E o damasco tem um sabor especial. Cada pessoa tem uma missão única, sua própria individualidade e seu modo de vida. É importante reconhecer essa verdade e respeitá-la. 


Essa é a ordem natural das coisas. É assim que funciona no mundo das flores: miríades de flores desabrocham harmoniosamente juntas numa bela profusão.” (Brasil Seikyo, edição no 1.547, 18 de abril de 1998, pág. 3.)


Infelizmente, as coisas nem sempre funcionam dessa forma. Mas todos têm o direito de desabrochar, de revelar seu pleno potencial como ser humano, de cumprir sua missão neste mundo. Vocês têm esse direito, e todas as outras pessoas também. O desprezo pelos direitos humanos e a sua violação destroem a ordem natural das coisas.


Brasil Seikyo: Como o sr. analisa a união de pessoas do mesmo sexo?


Nakamura: A capacidade de procriação só pode existir na união de duas pessoas de sexo oposto. Hoje é comum a existência de mães solteiras, o que comprova que em uma família o casal não deve, necessariamente, conviver embora esse seja o ideal. Assim, também, existem casais que convivem e não desejam ter filhos – e isso não é abominável, do ponto de vista da sociedade. Então, a convivência de pessoas do mesmo sexo também não deve ser vista como algo repugnável, uma vez que a escolha e a preferência são exclusivas dessas pessoas.


O budismo resulta sumamente refrescante se pensamos que não propõe regras sobre o que está bem ou o que está mal, o que é ou não apropriado em relação à conduta sexual. Não existe uma lista do que deve e não deve se fazer para aqueles que praticam o Budismo Nitiren. Pelo contrário, aqui a responsabilidade cai completamente em cada um. Somos responsáveis por tudo o que ocorre na nossas vida, incluindo a maneira a nossa sexualidade.


Não existe nenhum mandamento que nos obrigue a renunciar a nada para praticar o Budismo. Nenhum “ser masculino” é totalmente masculino e nenhum “ser feminino” é totalmente feminino. Ambos os seres possuem intrinsecamente parcela do outro. Em maior ou menor grau, essa parcela se manifesta em todas as pessoas.


O presidente da SGI afirma que a relação de mestre e discípulo é o supremo laço entre as pessoas, muito mais forte do que entre pais e filho. Nela não existe tática nem astúcia. Existe somente o estímulo vivo, o intercâmbio de vida a vida.


Sendo assim,


• O mais importante na vida é focá-la para o bem maior, que é o Kossen-rufu.


• Se nenhum relacionamento supera o de mestre e discípulo, qualquer outro tipo de relação somente poderá proporcionar felicidade no nível de bem menor.


• Se o foco de nossa vida se concentrar apenas nos relacionamentos familiares, de qualquer tipo, ainda estaremos num nível inferior de compreensão sobre o verdadeiro significado da vida.


• O relacionamento humano existe para que todos, indistintamente, possam elevar seu nível de vida para o estado de Buda e para isso, utilizamo-nos dos desejos mundanos para redirecioná-los para a felicidade eterna e não apenas de satisfação no mundo secular.


• A verdadeira missão como seres humanos encontra-se na convivência de paz entre as diferentes realidades de cada pessoa. Aceitar e respeitar essas diferenças constituem-se na mais elevada forma de vida e é o caminho da plena revolução humana.


Antonio Nakamura, vice-presidente adjunto da BSGI

Um comentário:

  1. Ameeeeiiii Essaa Matériaa...
    E Parabéns em postar aqui, pois um assunto em que nem sempre dá para ser comentado em uma reuniao ou com um dirigente.
    Muitooo Obrigadaa

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