terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Silvia Etsuko Saito - mãe do Kossen-rufu da América do Sul


Mãe do Kossen-rufu da América do Sul

Edição 1844 - Publicado em 20/Maio/2006 - Página A5

Meus inesquecíveis amigos de fé


O BS publica nesta edição um dos artigos da série “Meus Inesquecíveis Amigos da Fé”, de autoria do presidente da SGI, Daisaku Ikeda. Esta versão foi preparada especialmente para esta edição, já que a série não se encontra disponível para o português.
Em todo o mundo,
Não há nada que se compare 
Às mães.


Este ano, a Divisão Feminina está completando seu 55o aniversário e estou contente pelo fato de o Dia das Mães da Soka Gakkai (3 de maio) ter se tornado um evento anual comemorado pelos membros do mundo todo. Nós entramos numa era em que as mulheres Soka estão sendo cada vez mais consideradas e reconhecidas como tesouros da humanidade e observadas como uma brilhante esperança para este século.


A poetisa brasileira Cora Coralina (1889–1985) escreveu:


Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
As sementes vivas da Paz 

e da Justiça.

Os rostos nobres das mulheres que incansavelmente plantaram as sementes para a ampla propagação da Lei Mística estão gravadas de forma profunda e indelével em minha mente. Uma dessas pessoas admiráveis é Silvia Etsuko Saito, a “mãe do Kossen-rufu de América do Sul”.
Silvia sofria de asma desde criança e haviam lhe dito que ela não viveria até os vinte anos. Mas, após entrar para a Soka Gakkai aos dezenove anos, ela prolongou a vida por meio da fé e plantou incontáveis sementes de felicidade e vitória por toda a vasta terra do Brasil.
O Brasil é um campeão do Kossen-rufu mundial. Foram mulheres como Silvia Saito que, dedicando a vida à propagação dos ensinos de Daishonin, construíram a sólida base de nosso movimento na sociedade brasileira.

O sentimento de que ela venceria


Recordo-me de que, em dezembro de 1964, uma jovem elegantemente vestida visitou nossa pequena casa em Kobayashi-cho, no bairro de Ota. Era Silvia, e eu e minha esposa a recebemos em nosso lar. Alguns dias antes eu havia me encontrado com seu marido, Roberto Yasuhiro Saito, um gabaritado empresário que havia aceitado trabalhar em uma empresa no Brasil, deixando a esposa e os filhos no Japão. O Sr. Saito havia então decidido deixar o emprego e se estabelecer permanentemente no Brasil para que pudesse se dedicar ainda mais plenamente como líder da Sede da Soka Gakkai na América do Sul.

Não há dúvidas de que Silvia também havia feito a profunda decisão de acompanhar o marido ao Brasil e enfrentar os desafios que os aguardavam. Eu sentia de alguma forma que ela venceria. Acima de tudo, ela havia sido membro da orgulhosa Divisão Feminina de Kansai. Morando em Quioto, quando jovem ela havia participado alegremente junto comigo na Campanha de Osaka (em 1956). 

Quando fui preso no ano seguinte por causa do que ficou conhecido como o Incidente de Osaka, ela foi junto com outros membros à Delegacia de Polícia de Higashi, ao Escritório do Promotor do Distrito de Osaka e à Casa de Detenção de Osaka, preocupada com meu bem-estar.

Posteriormente, ela conquistou extraordinárias realizações na propagação do Budismo de Daishonin tanto em Kansai como em Tóquio, e ao comemorar seu décimo aniversário de conversão, ela havia apresentado mais de cinqüenta famílias à prática da fé.
No dia em que ela veio nos visitar em nossa casa, perguntei-lhe: “Você realmente acha que conseguirá dar esse passo?”

“Sim”, respondeu ela, “estou pronta! Responderei às suas expectativas realizando o Kossen-rufu do Brasil!” Fiquei muito feliz em ver sua bela expressão, radiante de determinação, e em ouvir sua voz clara e vibrante.

“Eu a apoiarei cem por cento”, disse, “e prometo visitar o Brasil dentro de um ano”.
Silvia estava com 28 anos, e enquanto viveu ela nunca se esqueceu do juramento feito naquele dia. Aceitando a função de coordenadora da Divisão Feminina da Sede da América do Sul, ela partiu para seu novo lar no mês seguinte, em janeiro de 1965. “Você pode transformar seu carma”

Um dia depois de ter chegado a São Paulo após a longa viagem do Japão ao Brasil, ela começou a agir.

Naquele período inicial, ela viajava no caminhão de um membro para visitar as famílias, a aproximadamente cinqüenta ou mesmo cem quilômetros de distância. Algumas vezes, as chuvas torrenciais tornavam as estradas intransitáveis e ela ficava com a água na altura dos joelhos enquanto caminhava com a filha de quatro anos nas costas e o filho de dois anos nos braços. Além do mais, estava grávida da terceira filha, na época.

Havia aproximadamente 2.500 famílias no Brasil naquele período, e todos estavam ardendo de esperança e se empenhando com coragem na vida diária e nas atividades da Soka Gakkai. A maioria era de imigrantes japoneses, e eles estavam muito longe de ter uma vida confortável. Parecia agora que uma jovem maravilhosa havia descido dos céus para incentivá-los e encorajá-los com uma voz vibrante de radiante convicção e inspiração.

Silvia diria: “Esperava-se que eu morresse de asma, mas então comecei a praticar o Budismo de Daishonin, conheci o presidente Ikeda e encontrei a esperança e assim viverei. 

Este budismo nos capacita a transformar nosso carma sem falta. Vamos avançar conforme Sensei ensina!” Ela foi uma apaixonada Joana D’Arc com um filho nos braços.

Um ano depois, o número de membros brasileiros havia triplicado para mais de oito mil famílias. Algumas pessoas recordam aquela época e dizem que o número real deve ter sido de mais de dez mil famílias.

Não importando a dificuldade da situação,
Nunca lamente —
A vitória pertence à mãe sorridente.

Em março de 1966, cumpri minha promessa e viajei ao Brasil. Era minha primeira visita após seis anos. Fiz minha primeira viagem ao país em 1960, ano em que me tornei terceiro presidente da Soka Gakkai. No ano de 1966, o repressivo regime militar do Brasil manteve-me sob constante vigilância. 

Houve ocasiões em que policiais armados realmente cercaram nossos locais de reunião. Preocupados com o repentino crescimento de nossa organização no Brasil, certos segmentos da sociedade brasileira divulgaram boatos totalmente infundados de que a Soka Gakkai era uma organização comunista ou violenta. 

O extraordinário crescimento do Kossen-rufu no Brasil desencadeou a perseguição caracterizada pelo “ódio e pela inveja ainda maiores que durante a existência do Buda” preditos no Sutra de Lótus. Conforme Nitiren Daishonin escreveu: “Se propagá-lo [o Nam-myoho-rengue-kyo], os demônios surgirão sem falta. Se não aparecerem, não haveria como saber que este é o ensino correto”. (The Writings of Nichiren Daishonin [WND], pág. 501.)
“Sinto muito”, desculpou-se Silvia.

“Não se preocupe comigo”, respondi. “Se levasse um tiro na estrada para o Kossen-rufu, não teria nenhum arrependimento.”

Embora ela tenha chorado de ira e frustração por causa da atitude das autoridades, ao ouvir minhas palavras ela levantou o rosto solenemente e disse: “Sensei, não serei derrotada. Transformarei o Brasil no melhor país do mundo e irei recebê-lo novamente junto com a Sra. Ikeda!”

Em março de 1974, após ter concluído a visita a Los Angeles, eu iria viajar para o Brasil, mas meu visto não saiu e eu fui forçado a cancelar a viagem. Liguei para o Sr. e a Sra. Saito: “Não devem deixar que os membros os vejam chorando. Sejam positivos e incentivem a todos. Conto com vocês”.

Reorganizei rapidamente meu itinerário e voltei para Nova Orleans, onde adiantei os planos para a realização de intercâmbios educacionais e conversei com muitos jovens brilhantes. Sinto-me profundamente honrado pelo fato de, em comemoração daquela visita ocorrida há três décadas, a cidade ter nomeado um parque com meu nome e o de minha esposa — o Bosque da Amizade Kaneko e Daisaku Ikeda (em março de 2004).

Vencendo a terrível destruição ocasionada pelo furacão Katrina em agosto do ano passado, nossos membros estão realizando magníficos esforços para apoiar e contribuir para a comunidade e seus esforços de reconstrução.

A propagação do Kossen-rufu mundial nunca chegará a um impasse. O significado de cada passo dado com seriedade aprofunda-se ainda mais com o passar do tempo.
Foi durante esse período mais difícil que Silvia decidiu tornar-se brasileira e ela e o marido obtiveram a cidadania brasileira.

Eles recitavam Daimoku continuamente, como se estivessem plantando a semente da Lei Mística no solo do Brasil. Convictos de que não há estratégia maior do que a do Sutra de Lótus, eles oraram e oraram. Estavam determinados a fazer com que a sociedade brasileira compreendesse e reconhecesse a Soka Gakkai de forma correta e, para isso, prometeram se empenhar com toda a coragem na prática da fé com base no espírito da unicidade de mestre e discípulo.


Com essa determinação, Silvia viajou pela vasta terra do Brasil — um país aproximadamente 23 vezes maior que o Japão. Ela chegou até mesmo a percorrer três mil quilômetros na região amazônica. E também cruzou fronteiras, visitando o Peru, a Bolívia, o Paraguai, o Uruguai e a Argentina.


Havia um membro da Divisão Feminina que lutava contra a pobreza e cujos filhos haviam ficado doentes, um após outro, oscilando entre a vida e a morte. 



Quando ela lamentou sua situação difícil, dizendo que “não há ninguém mais miserável que eu”, o incentivo que Silvia lhe deu foi estimulante: “Esta é sua oportunidade de transformar o veneno em remédio! Vamos seguir Sensei e fazer um grande juramento! Você precisa orar, se empenhar e trabalhar em prol do Kossen-rufu com o objetivo de que todos os membros brasileiros atingirão uma felicidade maior que a sua! A fé é a chave para a vitória na vida!”

Essa mulher, que se inspirou com o incentivo de Silvia a desafiar sua situação e a vencer seu sofrimento, é a atual coordenadora da Divisão Feminina da BSGI, Jeni Ikeda.
A terceira visita dezoito anos depois
Levei dezoito anos após minha segunda viagem para finalmente conseguir concretizar a tão desejada terceira visita ao Brasil. Cheguei no dia 19 de fevereiro de 1984. Como poderia me esquecer do sorriso e das lágrimas de alegria no rosto de Silvia quando ela me recebeu naquela ocasião, fruto de seus esforços indescritíveis? Os olhos de minha esposa também estavam cheios de lágrimas.

O grito de vitória dos brasileiros — “É pique, é pique, é pique, pique, pique!” — ressoava com toda força no grandioso festival cultural da BSGI do qual participei naquela visita. Também fui recebido com brados de alegria dos membros da Divisão dos Jovens quando fui ao ensaio.


Nos preparativos para aquele dia, os membros da Divisão do Futuro e da Divisão dos Jovens da BSGI haviam estudado a passagem dos escritos de Daishonin: “O tolo se esquece nas horas cruciais o que prometera nas horas normais”. (WND, pág. 283.) Foi a passagem que ofereci a Silvia durante a Campanha de Osaka, logo depois de tê-la conhecido na antiga Sede de Kansai. 



“Nunca se esqueça da mensagem dessa passagem enquanto viver”, pedi-lhe. E, então, ela a havia transmitido fielmente a essas jovens sucessoras no Brasil.

Um perspicaz sociólogo da religião observou que uma razão para a sólida base estabelecida pela Soka Gakkai no Brasil foi a bem-sucedida introdução da noção de mestre e discípulo na sociedade brasileira, um conceito que não fazia parte dela. Esse estudioso também comentou: “Isso se deve em grande parte à liderança e à orientação da líder geral da Divisão Feminina da BSGI, Silvia Saito, que aprendeu a essência da fé com o presidente Ikeda”.2
Ardendo com uma ira justa
Quando o clero sob a liderança de Nikken, num ato de grosseira ingratidão e traição, começou a atacar a Soka Gakkai, Silvia Saito foi uma das primeiras a falar, denunciando-o como “a tentativa do Demônio do Sexto Céu de sugar o sangue vital dos membros e de devorar seus sinceros oferecimentos.”

Quando o clero tentou tomar posse ilegal do Templo Itijoji (em São Paulo), que os membros da BSGI haviam construído com suas próprias contribuições, Silvia se uniu à então coordenadora da Divisão Feminina da BSGI, Helena Mieko Taguchi, e lançou uma onda ainda mais poderosa de oração para que a verdade fosse totalmente revelada e o mal, derrotado. Todos os membros da BSGI responderam e uma enorme onda de Daimoku varreu o Brasil.


A BSGI levou a causa aos tribunais. De fato, eles venceram todas as batalhas legais, sendo que os juízes julgaram a seu favor num total de onze vezes; eles derrotaram totalmente o clero desonesto e corrupto. Os nobres membros da BSGI ardiam com a justa ira contra a traiçoeira intriga do clero. Foi aquele espírito de luta, elevando-se como uma nova onda de paz e cultura, que tornou a BSGI a principal organização budista do mundo.


Machado de Assis (1839–1908), primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, declarou certa ocasião: “A arte de viver consiste de criar o grande bem até mesmo nas piores circunstâncias”.
Em abril de 1993, recebi a repentina notícia de que Silvia estava gravemente enferma. Em minha quarta visita ao Brasil apenas um ou dois meses antes (em fevereiro e também em março), ela havia recebido a mim e minha esposa junto com seus companheiros da BSGI. 


Durante todo o tempo, ela havia dado grande apoio e assistência para nós nos bastidores, junto com o marido e os três filhos, que haviam herdado sua dedicação ao Kossen-rufu.

Eu e minha esposa oramos intensamente por ela e lhe enviamos uma mensagem para sua recuperação. Quando seu marido Roberto lhe transmitiu a mensagem, belas lágrimas caíram de seus olhos, embora ela estivesse em coma. Na noite de 28 de abril, data em que Nitiren Daishonin anunciou seu ensino ao mundo, essa nobre pioneira do Kossen-rufu do Brasil partiu deste mundo de forma serena e solene. Ela estava com 57 anos. Havia prolongado sua vida em quase quarenta anos antes de partir para sua próxima jornada.


Mais de cinco mil pessoas foram ao enterro, entre elas importantes líderes da sociedade brasileira. Mesmo após o enterro, membros que ela havia ajudado e incentivado continuaram a chegar da região amazônica e de países vizinhos para prestar-lhe sua última homenagem. Prestei um tributo à gloriosa vida de Silvia com um poema:
O nome
Desta nobre mãe
Do Kossen-rufu da América do Sul
Brilha com todo fulgor e
Será honrado pela eternidade.
O nome de Silvia Saito também está gravado no Monumento aos Pioneiros do Kossen-rufu Mundial no Cemitério Memorial da Paz de Tyugoku, em Hiroshima. E a cerejeira que eu e minha esposa plantamos em homenagem a ela no Jardim Makiguti, adjacente ao Auditório Memorial Makiguti de Tóquio, está forte e alta, desabrochando novamente de forma esplêndida nesta primavera.
Silvia e suas companheiras impregnaram a vasta terra do Brasil com seu Daimoku — milhões e bilhões de Daimoku. O slogan de Silvia sempre foi “Muito mais Daimoku!”. Atualmente, o belo e nobre espírito dessa grandiosa praticante do budismo, Silvia Saito, está sendo mantido pelos membros da Divisão Feminina da BSGI.

Nitiren Daishonin escreveu: “Os benefícios do Sutra de Lótus, que tenho recitado ao longo de tantos anos, devem ser muito mais vastos do que o céu”. (WND, pág. 1.070.)
A união das mães é uma verdadeira força pela justiça. Pois a solidariedade das mães ao redor do mundo é a base que capacita cada pessoa a se tornar uma eterna vitoriosa, é a chave para a eterna paz mundial.


Nenhuma oração ao Gohonzon fica sem ser respondida — e sem dúvida que as orações das grandiosas pioneiras da paz, nossas mães Soka, transformarão o carma da raça humana e até mesmo o destino da própria Mãe Terra.

3 comentários:

  1. Espetacular!!Eu a conheci.Encontrei-a por 2 vezes!Ela era lindíssima!!!E sua voz quando incentivava a orar daimoku parecia uma explosão de energia!Era alguém fora do comum!!!!

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  2. Eu a conheci! Estava no início da minha prática, entendia pouco sobre o budismo. No entanto, a sua voz- com forte sotaque japonês, sua elegância e bonita-, me deixaram encantada e decidia a abraçar definitivamente o budismo com toda fé. Gratidão 🙏🏼

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